Vestígios de um garrancho
O grande momento de aprender a ler e a escrever pode vir mais cedo para alguns petizes, mais tarde para outros.
Para alguns brasileiros, só vem na maioridade; para muitos, nunca vem. No meu caso, aconteceu quando estava cursando a primeira série do ensino fundamental, dos seis aos sete anos: foi como tivessem aberto uma arca do tesouro.
Devorar palavras com os olhos como um americano devora um Big Mac é comigo mesmo. Mas hoje vou falar da parte escrita – a leitura fica por sua conta.
Quando consegui segurar o lápis de modo confortável (e não mais com dureza, como se o objeto fosse um graveto qualquer), colocá-lo no papel e arriscar algumas mal-traçadas letras (aquele A completamente tremido e tão severo que muitas folhas seguintes ficavam marcadas), viciei.
Mesmo quando a professora não pedia, eu completava um caderno de caligrafia atrás do outro.
Caderno de caligrafia... Ainda existe isso?
Ou está no mesmo limbo didático do mimeógrafo? Ao entrar na quinta série, os alunos do meu colégio podiam finalmente escrever com caneta a lição diária. Aí foi a minha perdição. Comprei uma daquelas geringonças de 100 cores e 300 cheiros e caprichava na letra como nunca.
Rabiscava palavras e frases nos livros, no canto da prova, na carteira, na sola de borracha do All-Star, na mochila.
Minha caligrafia transformou-se na típica feminina: redonda, cuidada, florida, pensada. A época em que eu enchia quatro folhas duplas de papel almaço (outro item do material escolar que ficou no limbo) com milhares de palavras desenhadas em esferográfica azul bico fino, e o tempo em que eu reconhecia minhas amigas pela letra de cada uma parecem tão distantes de nossa atualidade.
Porque eu não escrevo mais daquele jeito.
Aliás, quem escreve? Hoje minha caneta em forma de foguete foi substituída por um monte de teclas e minha folha de caderno virou um arquivo do Microsoft Word.
A letra que sai não denota minha pressa ou meu capricho: o A sempre está com cara de A – isso se você escrever em Verdana.
Em Arial ou em Times New Roman, é diferente. Ainda assim, não podemos mais reconhecer alguém pela caligrafia.
O máximo de pista é um nome no e-mail. Não que esteja saudosista, pelo contrário! Já pensou o que seria dos blogs se tivéssemos de escrever um texto como este em caderno, xerocá-lo e enviar a todos os leitores? E isso cinco dias da semana? Haja caneta, papel e selo.
Mas não posso negar o fato de que às vezes sinto falta do que era a minha letra. Fico horrorizada de pensar que só escrevo do jeito arcaico para fazer a lista de supermercado, deixar um bilhete á alguem,
A fluência foi-se.
Não consigo mais seguir uma linha reta. No meio da ação apressada, olho para o papel e suspiro. Parece com o garrancho que saía quando estava aprendendo a traçar as palavras.
É isso mesmo: percorri todo esse caminho para assistir à triste involução do meu traço.
Caderno de caligrafia, onde está você para me socorrer?
P*S*
( Texto tirado[mas um pouco modificado] dos Garotas dizem Ni o blog mais fantastico que já li.)
O grande momento de aprender a ler e a escrever pode vir mais cedo para alguns petizes, mais tarde para outros.
Para alguns brasileiros, só vem na maioridade; para muitos, nunca vem. No meu caso, aconteceu quando estava cursando a primeira série do ensino fundamental, dos seis aos sete anos: foi como tivessem aberto uma arca do tesouro.
Devorar palavras com os olhos como um americano devora um Big Mac é comigo mesmo. Mas hoje vou falar da parte escrita – a leitura fica por sua conta.
Quando consegui segurar o lápis de modo confortável (e não mais com dureza, como se o objeto fosse um graveto qualquer), colocá-lo no papel e arriscar algumas mal-traçadas letras (aquele A completamente tremido e tão severo que muitas folhas seguintes ficavam marcadas), viciei.
Mesmo quando a professora não pedia, eu completava um caderno de caligrafia atrás do outro.
Caderno de caligrafia... Ainda existe isso?
Ou está no mesmo limbo didático do mimeógrafo? Ao entrar na quinta série, os alunos do meu colégio podiam finalmente escrever com caneta a lição diária. Aí foi a minha perdição. Comprei uma daquelas geringonças de 100 cores e 300 cheiros e caprichava na letra como nunca.
Rabiscava palavras e frases nos livros, no canto da prova, na carteira, na sola de borracha do All-Star, na mochila.
Minha caligrafia transformou-se na típica feminina: redonda, cuidada, florida, pensada. A época em que eu enchia quatro folhas duplas de papel almaço (outro item do material escolar que ficou no limbo) com milhares de palavras desenhadas em esferográfica azul bico fino, e o tempo em que eu reconhecia minhas amigas pela letra de cada uma parecem tão distantes de nossa atualidade.
Porque eu não escrevo mais daquele jeito.
Aliás, quem escreve? Hoje minha caneta em forma de foguete foi substituída por um monte de teclas e minha folha de caderno virou um arquivo do Microsoft Word.
A letra que sai não denota minha pressa ou meu capricho: o A sempre está com cara de A – isso se você escrever em Verdana.
Em Arial ou em Times New Roman, é diferente. Ainda assim, não podemos mais reconhecer alguém pela caligrafia.
O máximo de pista é um nome no e-mail. Não que esteja saudosista, pelo contrário! Já pensou o que seria dos blogs se tivéssemos de escrever um texto como este em caderno, xerocá-lo e enviar a todos os leitores? E isso cinco dias da semana? Haja caneta, papel e selo.
Mas não posso negar o fato de que às vezes sinto falta do que era a minha letra. Fico horrorizada de pensar que só escrevo do jeito arcaico para fazer a lista de supermercado, deixar um bilhete á alguem,
A fluência foi-se.
Não consigo mais seguir uma linha reta. No meio da ação apressada, olho para o papel e suspiro. Parece com o garrancho que saía quando estava aprendendo a traçar as palavras.
É isso mesmo: percorri todo esse caminho para assistir à triste involução do meu traço.
Caderno de caligrafia, onde está você para me socorrer?
P*S*
( Texto tirado[mas um pouco modificado] dos Garotas dizem Ni o blog mais fantastico que já li.)

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